Os Quatro Pilares da Gestão Sustentável Energética: Demanda, Oferta, Regulação e Sustentabilidade Sócio-Ambiental.
A necessidade de cuidar mais adequadamente das questões relacionadas à energia, a partir do crescimento da demanda residencial, comercial e industrial, e da crise de energia verificada em 2001, levou o Governo Federal, por meio do Ministério das Minas e Energia, a considerar a energia como estratégia essencial para a manutenção da qualidade de vida da população e para o desenvolvimento sustentável do país.
Como parte dessa estratégia, foram criados instrumentos para otimizar a gestão dos recursos energéticos do país, de forma integrada, como o Programa Gestão da Política de Energia, que resultou na elaboração do Balanço Energético Nacional (BEN), do Plano Decenal 2001/2010 e da Matriz Energética Brasileira.
Nesse sentido, Lineu (2005) aponta a Gestão Integrada de Recursos (GIR) como uma importante forma de orientar o planejamento energético, por meio de alianças e parcerias, que garantam a competitividade econômica e a viabilização dos investimentos.
O processo de gestão dos recursos energéticos no Brasil fundamenta-se em fatores como o crescimento da demanda, os preços dos mercados internacionais, a crescente complexidade da exploração e produção de energia, as preocupações ambientais e a instabilidade política das nações que dominam as maiores reservas de fontes de energia utilizadas em grande escala, como petróleo e gás natural.
Estabeleceu-se então premissas para a adequada gestão dos recursos energéticos, apoiadas em quatro importantes pilares: oferta, demanda, regulação e sustentabilidade ambiental.
Demanda x Oferta
A demanda de energia refere-se à disposição de compra de energia por parte dos consumidores, ou a quantidade de energia que um ou mais consumidores estão dispostos a comprar, também pode ser chamada de procura. Já a oferta de energia refere-se à quantidade que está disponível ao mercado, ou melhor, à aqueles que tem o interesse de compra.
De acordo com as análises de Tolmasquim (2007), ao longo do século XX o Brasil experimentou intenso desenvolvimento econômico, que se refletiu numa crescente demanda de energia primária. Entre os fatores que determinaram tal crescimento alinham-se um expressivo processo de industrialização, com a instalação de plantas energo-intensivas, e uma notável expansão demográfica, acompanhada de rápido aumento da taxa de urbanização. Considerando-se apenas o período a partir de 1970, a série histórica da evolução do consumo de energia e do crescimento populacional indica que naquele ano a demanda de energia primária era inferior a 70 milhões de tep (toneladas equivalentes de petróleo), enquanto a população atingia 93 milhões de habitantes. Em 2000 a demanda de energia quase triplicou, alcançando 190 milhões de tep, e a população ultrapassava 170 milhões de habitantes. Então pode-se dizer que o consumo per capita aumentou de 0,75 tep/hab para 1,1 tep por habitante, durante 1970-2000, ou seja ocorreu um crescimento do consumo per capita em torno de 46%. Assim, verificou-se uma significativa expansão do consumo de energia nos intervalos em que houve uma expansão mais vigorosa da economia. Isso indica que em um ambiente de maior crescimento econômico deve se esperar maior crescimento da demanda de energia.
Tolmasquim formula uma prospectiva para a economia brasileira, onde os estudos de longo prazo conduzidos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontam forte crescimento da demanda de energia nos próximos 25 anos a partir de 2008. Estima-se que a oferta interna de energia crescerá a 5% ao ano no período 2005-10 e que nos anos subseqüentes haverá um crescimento menor — de 3,6% e 3,4% ao ano nos períodos 2010-20 e 2020-30, respectivamente, devido, sobretudo, a uma maior eficiência energética, tanto do lado da demanda como da oferta. No entanto, esse crescimento deve ser qualitativamente diferente. Além de um crescimento sustentado, pode-se esperar um aumento muito mais intenso da renda per capita e também uma melhor distribuição de renda. Esses fatores, aos quais se soma o consumo de energia per capita, atualmente muito baixo para os padrões mundiais (de 1.190 tep/103 hab.), justificam o crescimento da demanda nacional de energia para 3,8% ao ano em 2030, superando 550 milhões de tep.
Regulação
Falando de gestão dos recursos energéticos, a regulação tem um papel fundamental para executar regras da política nacional de energia, mediar conflitos e fiscalizar os processos ligados a geração, transmissão, distribuição e comercialização da energia. Dois órgãos reguladores foram criados no fim da década de 1990; o primeiro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criada pela Lei Nº 9.427, de 1996. Autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e Energia e tem como atribuições regular e fiscalizar a geração, a transmissão, a distribuição e a comercialização da energia elétrica; mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor elétrico e entre estes e os consumidores; conceder, permitir e autorizar instalações e serviços de energia; garantir tarifas justas; zelar pela qualidade do serviço; exigir investimentos; estimular a competição entre os operadores e assegurar a universalização dos serviços. (MME)
O segundo, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), implantada há dez anos pelo Decreto nº 2.455, de 14 de janeiro de 1998, é o órgão regulador das atividades que integram a indústria do petróleo e gás natural e a dos biocombustíveis no Brasil. É uma autarquia federal, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, responsável pela execução da política nacional para os setores mencionados. A ANP estabelece regras por meio de portarias, instruções normativas e resoluções; promove licitações e celebra contratos em nome da União com os concessionários em atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural e fiscaliza as atividades das indústrias reguladas, diretamente ou mediante convênios com outros órgãos públicos.
Indicadores e Critérios de Sustentabilidade
No capítulo 7 da Matriz Energética Brasileira são apresentados os Indicadores Ambientais, uma proposta que visa desenvolver um conjunto de critérios e indicadores de sustentabilidade para balizar a discussão entre os diversos segmentos sociais e econômicos envolvidos nos empreendimentos de geração de energia a partir de outras fontes, nas suas dimensões sociais, ambientais e econômicas.
Os critérios de sustentabilidade fazem parte de um conjunto de definições de diferentes aspectos que devem ser considerados, de forma complementar e interdependente, na avaliação de empreendimentos, conjugados a metas e princípios que se pretende alcançar para o desenvolvimento sócio-ambiental do País e de suas diferentes populações. Já os indicadores de sustentabilidade são parâmetros que possam ser utilizados como medida do cumprimento destes critérios.
Os critérios e indicadores partem de seis princípios, sendo eles: Princípio da visão de um futuro sustentável, Princípio da justiça ambiental, Princípio do interesse social, Princípio da autonomia, Princípio da avaliação prévia e o Princípio de economia ecológica.
A sustentabilidade das diversas fontes de energia é muito discutida e tem-se procurado estabelecer parâmetros de avaliação por meio de indicadores apropriados. Como indicadores ligados a aspectos macros e socioeconômicos, sendo eles a utilização de energia per capita, o número de lares atendidos por energia elétrica e a importação líquida de energia. Entre os mais específicos e que podem ser aplicados às diversas fontes energéticas são citados: a produção de energia, a disponibilidade no país do combustível considerado, a emissão de poluentes e gases de efeito estufa de cada cadeia energética, a produção de resíduos e rejeitos por unidade de energia gerada, o uso da terra por unidade de energia produzida.
De acordo com a matriz energética de 2030, os indicadores ambientais podem ser divididos em três temas principais: atmosfera, água e solo, os quais podem ainda ser subdivididos em subtemas:
Atmosfera: mudanças climáticas e qualidade do ar.
Água: a qualidade da água é, em geral, afetada pela descarga de contaminantes, em especial nas atividades de mineração.
Solo: a qualidade dos solos deve ser considerada além da sua importância como espaço físico e relevo. O solo deve ser considerado como um importante recurso, junto com os recursos hídricos, essencial para a agricultura e como habitat para as diversas espécies de plantas e animais. As atividades de produção de energia podem resultar na degradação e acidificação dos solos.
Conclusão
Diante das questões apresentadas sobre o processo de gestão dos recursos energéticos no país, balizado pelos pilares de oferta, demanda, regulação e sustentabilidade ambiental, conclui-se que foram obtidos avanços nos últimos anos, por meio da implementação de diversas ações públicas e privadas, viabilizadas pela estruturação do setor de energia. Dentre elas, podemos citar a estratégia dos leilões de energia, os quais vêm sendo implementados regularmente, a partir de estudos efetuados pela EPE, de forma a assegurar o atendimento da demanda por energia.
Verificam-se também ações de geração de conhecimento e de tecnologias que vêm contribuindo para a produção sustentável de energia.
Cabe destacar que as projeções feitas por Tolmasquim apontam que o consumo de energia crescerá a taxas superiores às das últimas décadas e que a expansão da oferta energética poderá superar o dobro da atual capacidade instalada em todos os segmentos, especialmente os de petróleo, gás natural, etanol e eletricidade.
No entanto, a preocupação com os impactos ambientais da produção e do uso da energia, em especial as emissões de gases e seus efeitos sobre o clima do planeta, tem reforçado a necessidade de regulação e da definição de políticas especificamente orientadas para assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento econômico, o que decerto exige planejamento e ação governamental.
Referência Bibliográfica.
Reis, Lineu Belico dos. Fadigas, Eliane A. Amaral, Carvalho, Cláudio Elias. Energia, recursos naturais e a prática do desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005.
Tolmasquim M.T. GUEREIRO A. GORINI R. Matriz Energética Brasileira: Uma Prospectiva.
Estudo EXAME de Energia – publicado em 24/09/2008
Plano Nacional de Energia – PNE 2030.
Matriz Energética Brasileira.
http://www.seplan.go.gov.br/energias/www.mme.gov.br
www.aneel.gov.brwww.anp.gov.br