Saturday, August 22, 2009

Energia e Desenvolvimento Sustentável

ENERGIA E DESENVOLVIMENTO

Qual o papel da energia para o desenvolvimento sócio-ambiental sustentável?

Esta semana discutiremos a respeito do papel da energia no desenvolvimento sócio-ambiental sustentável, tema que está ligado a questões sociais, políticas, econômicas e ecológicas. As tecnologias modernas que foram introduzidas a partir do século passado aumentaram a qualidade de vida da população, mas impulsionaram o consumo de energia de tal forma que ela se tornou um elemento essencial para o desenvolvimento socioeconômico. Essas mesmas tecnologias modernas contribuíram para o aumento do impacto ambiental que as atividades humanas exercem sobre o planeta. É ponto indiscutível que a energia é necessária para alimentar o desenvolvimento, pois para que ocorra desenvolvimento econômico é necessário que haja uma infra-estrutura básica, segundo Reis (2005) infra-estrutura é o conjunto básico de bens e serviços que devem ser disponibilizados ao ser humano para que ele tenha condições de alcançar o desenvolvimento, esse conjunto é formado por componentes tais como transporte, energia, água e saneamento.
O suprimento eficiente de energia é um fator chave para o alcance do desenvolvimento sustentável. Entende-se que esse suprimento está atrelado a quatro fatores básicos: o primeiro é a inovação tecnológica, tanto na busca de fontes limpas e renováveis de energia como no desenvolvimento de técnicas que permitam um consumo energético menor. O segundo fator é o desenvolvimento da consciência das pessoas na utilização da energia. O terceiro é a universalização da energia, fazendo com que ela se torne um bem disponível para todos. O quarto fator é o aumento da geração de energia através de fontes renováveis e, conseqüente, diminuição na utilização de combustíveis fósseis. E o quinto fator está ligado à necessidade de implantação de um planejamento energético integrado, que seja elaborado a partir de cenários energéticos projetados com base na análise de dados e na avaliação de indicadores energéticos, esse planejamento também deve ser resultado do posicionamento de diversos setores do governo, juntamente com a iniciativa privada e a sociedade civil organizada.
Goldemberg (2005) apresenta uma relação entre desenvolvimento econômico e energia no Brasil, defendendo que o país esta entre aqueles que possuem uma grande eficiência energética, pois consegue obter bons resultados econômicos usando apenas a metade da energia média per capita mundial, ele também salienta que o país tem uma predominância no consumo de energia hidráulica e possui um grande potencial para aumentar a utilização da energia da biomassa, que, por ser uma fonte energética renovável, é considerada como uma opção energética adequada e cuja utilização ajudará a ampliar o tempo de duração das reservas não-renováveis. O autor também aponta que para continuar crescendo, o país terá de aumentar essa eficiência energética e produzir mais energia.
Uma ferramenta importante para o planejamento energético é a construção de indicadores energéticos que avaliem as condições de sustentabilidade energética do país e, assim, apontem as necessidades de investimento e a vulnerabilidade do país em relação à dependência de energia. Os indicadores energéticos se subdividem em dimensões que são afetadas diretamente pela energia, essas dimensões são: ambiental, social, econômica e tecnológica. São exemplos de indicadores, o nível de investimento em tecnologias limpas e o número de domicílios com acesso à eletricidade.
De acordo com Reis (2005), até do final da década de 1980, o modelo de suprimento de energia adotado foi fruto de grandes investimentos em obras que geraram abundância de recursos energéticos e chegaram a consumir até 4% do produto nacional bruto; mas que, devido à falta de políticas adequadas, levaram a grandes índices de desperdício e não promoveram o desenvolvimento de forma igualitária. Isso ocorreu por causa da falta de articulação entre os setores energéticos e a implantação de políticas centralizadoras que geraram danos ao meio ambiente e não levaram ao crescimento de todos os setores. No cenário atual, há necessidade de se aumentar a segurança do suprimento de eletricidade, desenvolver inovações tecnológicas, baixar os custos para os consumidores finais, gerar empregos e reduzir os impactos sócio-ambientais. De acordo com estudos, como o Dossiê de Energia, esse cenário de sustentabilidade energética pode ser alcançado através de políticas agressivas de planejamento energético que tenham como objetivo promover maior eficiência energética e maior utilização de fontes renováveis para a geração de eletricidade.
Em 2006 a organização WWF-Brasil divulgou um estudo, intitulado "Agenda Elétrica Sustentável 2020", realizado por especialistas da USP, o estudo demonstra que as escolhas que serão tomadas no setor brasileiro de energia elétrica até 2020 serão cruciais à segurança energética nacional, ao desenvolvimento econômico e social e à proteção ambiental do país. A pesquisa indica dois cenários para a política energética nacional, um tendencial que apresenta projeções com base na política que já está sendo utilizada nos últimos anos e outro chamado de cenário elétrico sustentável; que exige, entre outros fatores, a geração de eletricidade por fontes renováveis, como biomassa, eólica, solar e pequenas hidrelétricas. O mesmo estudo indica que essas fontes de energia serão responsáveis por 20% da geração total de eletricidade no país, o que garantirá a estabilização das emissões de dióxido de carbono e de óxido de nitrogênio, principais gases causadores do efeito estufa. Hoje, a maior parte da matriz energética utilizada no mundo é baseada na utilização de combustíveis fósseis, o que causa um enorme impacto ambiental.
De acordo com Vargas (1996) a distribuição desigual de energia, faz com que algumas regiões tenham uma capacidade de suprimento maior do que outras; o crescimento populacional, principalmente nos centros urbanos; e o aumento da necessidade de consumo de energia, gerado pelo desenvolvimento econômico fizeram com que a necessidade de produção e uso eficiente da energia se tornasse um ponto crucial para o desenvolvimento econômico e social. O autor apresenta, então, o conceito de que a energia é um fator limite para o desenvolvimento sustentável e enfatiza o fato de que, nos próximos 30 anos, a situação nos países mais pobres poderá tornar-se crítica, tanto pelo provável custo quanto pelas dificuldades de acesso a fontes convencionais ou outras mais apropriadas ou ambientalmente adequadas.
O crescimento energético gera emprego e crescimento de renda, por essa razão, está diretamente ligado ao crescimento econômico. Mas o aumento da eficiência energética de um país não resulta necessariamente em melhoria da qualidade de vida para todos; no Brasil, por exemplo, cerca de 12% da população ainda não tem acesso à energia elétrica e no mundo, estima-se que 30% da população não tenha acesso à eletricidade. (Reis, 2005).

Bibliografia Consultada:

- DOSSIÊ DE ENERGIA. Estudos Avançados vol. 21 no.59 São Paulo Jan./Apr. 2007. Disponível em http://www.wwf.org.br

REIS, Lineu Bélico dos; FADIGAS, Eliane A. Amaral; CARVALHO, Cláudio Elias. Energia, Recursos Naturais e a Prática do Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Monole, 2005.

- VARGAS, José Israel. Energia como Fator Limite para o Desenvolvimento Sustentável. IEA, 1996. Disponível em http://www.iea.usp.br

- GOLDEMBERG, José; MOREIRA, José Roberto. Política Energética no Brasil. IEA, 2005. Disponível em http://www.iea.usp.br

Questões Propostas:

Os dados de pesquisa coletados para a elaboração deste texto apontam a utilização das fontes de energia renováveis como uma solução ambientalmente adequada para a questão energética, no entanto, sabemos que fontes renováveis como a biomassa e a hidráulica também causam um impacto ambiental e social. Sendo assim, como avaliar a utilização das fontes não-renováveis para o desenvolvimento econômico, social e energético sustentável?

Dentro de uma situação real, onde há a necessidade imperativa de crescimento, esse crescimento é sustentado por uma requisição cada vez maior de energia, mas as fontes de energia mais utilizadas geram impactos ambientais negativos, a grande questão é: as inovações tecnológicas voltadas para a eficiência energética e sustentável podem apresentar uma solução para o impasse ou exige-se mais em termo de políticas que apresentem uma solução globalizada para as dimensões social, ambiental e econômica?

As questões propostas acima não pretendem orientar o debate, mas apenas funcionarem como ponto de reflexão a respeito do tema.

9 comments:

EDNA said...

Estive lendo sobre a Agenda sustentável 2020 e encontrei alguns pontos que me chamaram atenção:

Pelos cálculos dos pesquisadores, a adoção do plano alternativo acarretaria uma economia de 12% nos gastos previstos para gerar, transmitir e distribuir energia elétrica até 2020, o que representa cerca de R$ 33 bilhões. Por meio da redução do desperdício de energia e do aumento da participação das fontes renováveis, seria possível evitar a implantação de aproximadamente 78 megawatts no sistema elétrico nacional, o que corresponde a 60 usinas de Angra 3 ou a seis usinas com a capacidade de Itaipu.


Ao todo, a Agenda Elétrica Sustentável 2020 elenca nove medidas imprescindíveis ao sucesso das propostas São elas: a) realização de leilões de eficiência energética; b) estabelecimento de padrões de eficiência energética; c) realização de licitações tecnológicas; d) definição de metas para investimentos em eficiência, e) implementação do Programa Nacional de Geração Distribuída; f) implementação de uma segunda etapa do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa 2); g) criação do Programa Nacional para a Energia Solar Térmica; h) redução dos subsídios para as fontes convencionais de energia; e i) disseminação constante da informação.

Acho tudo isso na teoria muito bonito, mais acredito que levaremos ainda muitas décadas para sua viabilização.

Alexandre Moura said...

Prezados,

Muito interessante o tema, questões importantes são abordadas principalmente no quesito energia e meio ambiente. Não há dúvida de que o grande desafio é possibilitar o desenvolvimento utilizando fontes de energia sem degradar o meio ambiente. E o texto trás muito claro que há possibilidades de se fazer isso, no meu ponto de vista dois me chamaram a atenção; primeiro, e a questão da conscientização da população o que pode ajudar na economia de energia; segundo, a existência de indicadores energéticos, que por sua vez, podem nortear as políticas sem degradar muito o meio ambiente ou ao menos minimizar os impactos.

Valeu!

marcus said...

A utilização das energias renováveis em substituição aos combustíveis fósseis é uma direção viável e vantajosa. Pois, além de serem praticamente inesgotáveis, as energias renováveis podem apresentar impacto ambiental muito baixo ou quase nulo, sem afetar o balanço térmico ou composição atmosférica do planeta.
Graças aos diversos tipos de manifestação, disponibilidade de larga abrangência geográfica e variadas possibilidades de conversão, as renováveis são bastante próprias para geração distribuída e ou autónoma.
Durante a Rio + 10, realizada em Joanesburgo em 2002, o Brasil se destacou ao propor um conjunto de medidas modificadoras do modelo universalmente adotado para geração de energia elétrica, visando à progressiva utilização de recursos renováveis.
A vida moderna tem sido movida a custa de recursos esgotáveis que levaram milhões de anos para se formar. O uso desses combustíveis em larga escala tem mudado substancialmente a composição da atmosfera e o balanço térmico do planeta provocando o aquecimento global, de gelo nos pólos, chuvas ácidas e envenenamento da atmosfera e todo meio-ambiente. As previsões dos efeitos decorrentes para um futuro próximo, são catastróficas.
A utilização das energias renováveis em substituição aos combustíveis fósseis é viável e vantajosa. Além de serem praticamente inesgotáveis, as energias renováveis podem apresentar impacto ambiental muito baixo, sem afetar o balanço térmico ou a composição atmosférica do planeta.

Anonymous said...

Simpáticos,

Achei muito interessante a parte em que a Cristina trata do suprimento de energia. Quando discutimos superficialmente este assunto pensamos logo, e apenas, no fator quantitativo, ou seja, em energia suficiente para uma cidade ou região. De imediato já atrelamos para o aumento da geração de energia, por uma inovação tecnológica e que utilize, preferencialmente, recursos naturais. Porém, são colocados, de modo muito pertinente, mais três fatores: planejamento energético, universalização da energia e desenvolvimento da consciência. Um planejamento eficiente com base em análise de dados e na avaliação de indicadores é de suma importância para estabelecermos metas de crescimento energético e universalização, por exemplo. Por fim, a questão da consciência. Independente do tipo de energia que utilizamos, devemos usá-la de modo responsável.

Thiago Costa

Fernando Wirthmann said...

O acesso e a disponibilidade à energia são fatores determinantes no direcionamento e na intensidade do desenvolvimento de uma nação. A inovação tecnológica e a sensibilização dos consumidores para a utilização racional dos recursos energéticos são questões relacionadas a princípios educacionais, no qual o incentivo à pesquisa e a educação devem ser colocadas como questões norteadoras rumo ao desenvolvimento sustentável. A disponibilização da energia a todos, assim como o crescimento energético, através da utilização de fontes renováveis são exemplos de indicadores de desenvolvimento, que por sua vez estão intrinsecamente ligados aos princípios de incentivo a educação e pesquisa.
Enxergo uma acerta carência de programas de incentivo ao desenvolvimento, pesquisa e a educação no que diz respeito às questões energéticas, principalmente em relação ao uso racional dos recursos energéticos e o desenvolvimento de tecnologias mais adequadas ambientalmente para a geração de energia.

Stefan said...

Diante de evidências cada vez mais claras de aquecimento global devido às emissões dos gases de efeito estufa liberados em sua maior parte pela queima de combustíveis fósseis, o Brasil se encontra em posição privilegiada, pois dispõe de uma matriz energética baseada num alto uso de energias renováveis.

Uma alternativa relevante em nosso país é a produção de biocombustíveis, que estão sendo usados em motores que substituem a gasolina e o óleo diesel.

Na queima em motores esses emitem somente o carbono capturado no crescimento da cana ou das oleaginosas pela fotossíntese, contrariamente ao que ocorre com os combustíveis fósseis, que retiram o carbono de reservatórios da crosta terrestre e o lançam na atmosfera, contribuindo grandemente para as mudanças climáticas.

Na realidade, “energia renovável” raramente significa “sem impacto”, tanto sobre o meio ambiente, quanto nos sistemas econômicos ou sociais. Analisar a sustentabilidade é uma tarefa complexa, e depende de vários fatores como a região onde uma matéria-prima é produzida ou quais tecnologias são usadas numa fase agrícola de um processo ou mesmo no processamento final.

Willem said...

Inicialmente o homem utilizava como formas de energia o esforço muscular (humano e animal), a energia eólica (vento) e a energia hidráulica, obtida pelo aproveitamento da correnteza dos rios. Com a Revolução Industrial, na Segunda metade do século XVIII e no século XIX, surgem as modernas máquinas, inicialmente movidas a vapor e que hoje funcionam principalmente a energia elétrica. O carvão mineral foi importantíssimo neste momento porque a energia elétrica pode ser obtida também pelo carvão além de outras fontes como a água.
Os países pioneiros no processo de industrialização, como a Inglaterra, a Alemanha, os Estados Unidos e a França, bem servidos em reservas carboníferas utilizaram massissamente o carvão até que, com o desenvolvimento da indústria automobilística – que usa derivados do petróleo como combustíveis e também na fabricação dos pneus e plásticos diversos -, pouco a pouco substituíram-no pelo petróleo como grande fonte de energia mundial.
No final do século XIX, em 1880, "97% da energia consumida no mundo provinha do carvão, mas noventa anos depois, em 1970, somente 12% desse total provinha desse recurso natural; depois da chamada “crise do petróleo”, ocorrida em 1973, a elevação dos preços de óleo fizeram com que o carvão fosse novamente valorizado, pelo menos em parte, e ele voltou a subir um pouco, representando cerca de 25% da energia total consumida no globo nos anos 80 e 90” . Como se vê, a importância do carvão declinou mas ele continua tendo um sensível peso nos dias atuais, principalmente para as indústrias siderúrgicas e para a obtenção de energia elétrica através de usinas termelétricas.
Foram diversos os fatores que determinaram a dependência mundial da fonte energética não renovável com base no petróleo após o final do séc. XIX. O principal, talvez, tenha sido a diversidade de usos que o petróleo proporcionou com o sistemático avanço das ciências e das tecnologias aplicadas para a sua utilização desde o início da sua extração comercial (1859). Foi, no entanto, com o advento da indústria automobilística e da aviação, assim como das guerras, que o petróleo se tornou o principal produto estratégico do mundo moderno. As maiores 100 empresas do século XX estavam ligadas ao automóvel ou ao petróleo.

Carol Alarcão said...

O texto apresentado nos mostra que o uso da energia associada ao desenvolvimento tecnológico proporcionou o aumento da qualidade de vida da população. Mas em contrapartida gerou maior consumo de energia o que conseqüentemente vem desencadeando os impactos ambientais.
O uso das fontes de energia pelo homem tem se constituído em motivo de progresso e de devastação.
A questão pode ser minimizada com inversão da relação energia não renovável para renovável. Pois a enorme dependência de fontes não renováveis de energia tem acarretado, além do esgotamento destas fontes, a emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera contribuindo para o “Efeito Estufa".
Certamente mais cedo ou mais tarde a oferta destas fontes não renováveis será reduzida, obrigando a utilização de outras fontes inclusive as renováveis para a busca da solução de suprimento de energia para um desenvolvimento econômico e ambientalmente sustentável. Para a transição de um novo perfil de consumo de energia é interessante que seja de forma progressiva, sem as instabilidades que advirão de uma mudança brusca, obrigatória pela escassez ou preços elevados dos energéticos.
As fontes renováveis de energia também geram impactos, mas não deixa de ser uma opção para um futuro sustentável para a humanidade. Apesar do custo de investimento ser elevado a fonte de energia renovável possui importantes vantagens como, por exemplo, nos permite reduzir a dependência das importações de energia, é um meio de estratégia global de desenvolvimento sustentável, contribui na melhoria da competitividade global, tem efeitos positivos no desenvolvimento regional e na geração de emprego.

Angélica said...

O simples fato de andar em um local preservado já gera um impacto no local onde pisamos. Imagine o tamanho e a proporção de impacto gerado para abastecer e gerar energia. Realmente sem energia não dá para viver,essa é a minha sincera opinião,mas devemos gerar energia de maneira sustentável. O Brasil está a frente em relação a tecnologias renováveis. Percebemos que são várias formas de obtenção de energia utilizadas no nosso país. E também várias empresas estão se empanhando para a criação de novas tecnologias capazes de gerar energia. Porém todas geram impactos,só que algumas geram menor impacto, como a energia solar. Imagino que na verdade a saída seja utlizar várias fontes de energia ao mesmo tempo, como já ocorre aqui no Brasil.