Saturday, September 26, 2009

Pré-sal 2009 - Gestão!!!

O pré-sal exige menos ideologia e mais gestão

Autor(es): Fernando Abrucio
Época - 07/09/2009
 
 
 

FERNANDO ABRUCIO é doutor em Ciência Política pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP) e escreve quinzenalmente em ÉPOCA

 

A política brasileira parece estar entrando numa nova fase, com o arrefecimento da crise do Senado. Para o futuro do país, é mais importante debater propostas de políticas públicas, pois, quando escândalos e denúncias dominam a cena, o jogo político acrescenta quase nada à vida da população. Mas nem todos estão preparados para essa mudança, uma vez que é bem mais fácil atuar segundo a lógica dos “mocinhos x bandidos” que enfrentar a complexidade da gestão pública.

Está aí um dos maiores desafios do século XXI: a gestão pública não pode seentendida por reducionismos ideológicos e tampouco comporta respostas únicas. Ela envolve a conciliação de múltiplos objetivos. O Estado precisa produzir políticas públicas eficienteeeficazes, resguardando ao mesmo tempo o interesse público. A proposta do governo Lula de alterar o marco regulatório da exploração do petróleo é um bom exemplo para entendeessa questão.

A regulamentação do pré-sal está gerando um grande debate, pois será peça- -chave na trajetória econômica do país nas próximas décadas. Deve-se evitar, portanto, que a discussão se resuma a falsas dicotomias, baseada nos seguinteenredos: a luta de nacionalistas contra entreguistas, segundo a versão governista; ou a disputa entre estatistas e defensores da livre-iniciativa, conforme a simbologia oposicionista.

Trata-se de um problema de gestão pública, que deve ser avaliado por critérios empíricos, não por suposições ideológicas. A ideia demudar o modelo de concessão para o de partilha e mesmo a criação de uma estatal responsável pelo planejamento da exploração petrolífera não são, a princípio, ideias equivocadas. No que se refere ao primeiro aspecto, a justificativa certa para sua adoção é o maior controle do fluxo de extração e venda de petróleo. Um ritmo totalmente comandado pelos interesses do mercado – incluindo aí a Petrobras – poderia levar a graves desequilíbrios macroeconômicos, tanto do ponto de vista cambial quanto no que se refere à situação industrial do país. E aqui o interesse público de longo prazo é mais importante que os ganhos econômicos imediatos.

Reforçar o podeestatal não é um pecado. Mas o viés 
anticompetitivo será péssimo para a Petrobras

 

No que tange à criação de uma estatal planejadora desse processo, em vez de deixar o trabalho à ANP, também é possível justificar o novo órgão. Ele seria um formulador de políticas públicas de longo prazo, não regulador. Dizer que isso seria um desastre porque criaria um “cabide de empregos” é algo que valeria, em tese, para todo o Estado brasileiro. As raízes disso estão em falhas estruturais da administração pública. Sem reformá-la, todas as políticas públicas serão frágeis. Para evitar a reprodução do patrimonialismo no caso do pré-sal, será necessário estabelecer um forte modelo de controle sobre o novo órgão. Se for produzida uma boa solução aqui, ela poderá se tornar um exemplo para melhorar a fiscalização do conjunto do governo.

Do ponto de vista da gestão, o problema maior da proposta do governo é o ambiente anticompetitivo embutido nela, presente tanto no monopólio da operação como na obrigação de que a Petrobras detenha uma participação mínima de 30% em cada bloco explorado. Aestatal melhorou muito nos últimos anos, porque teve de ser mais eficiente que as outras competidoras. O fim da situação monopolísticaestimulou parcerias importantes com empresas nacionais e estrangeiras, tanto no plano financeiro quanto no tecnológico. O pior de tudo é que a existência de uma única operadora dará um podeenorme à Petrobras. Desse modo, será mais difícil para o governo, mesmo com um novo órgão, controlar a estatal petrolífera numa situação sem competição.

Reforçar o podeestatal, como quer o governo Lula, não é nenhum pecado em termos de gestão. Mas o viés anticompetitivo será péssimo para a Petrobras, que se acomodará; para o Executivo federal, que ficará mais fraco em termos regulatórios; e principalmentepara a sociedade, que, no caso do pré-sal, deseja que sejam compatibilizados os interesses de longo prazo do país com a busca daeficiência.

6 comments:

Alexandre Moura said...
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Alexandre Moura said...

O estado tem que de alguma forma se fazer presente no mercado, não dá para cair no conto dos entreguistas, como diz o texto, que o mercado resolve. A prova mais clara disso foi à crise onde o Brasil se saiu melhor que muitos países, pois o governo pode interferir através do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal , liberando crédito a juros mais baixos para a população, assim fez a economia girar. Muito interessante que o texto aborda a questão da competição, ou seja, uma forma de fazer a Petrobrás melhorar, o problema é que nessa situação, dependendo do governo e dos interesses individuais a empresa pode ser enfraquecida.
Não é novidade que a questão do petróleo vai estar na pauta das próximas eleições, os neoliberais com certeza vão defender a privatização da Petrobrás, vão dizer a população que isso faz parte da modernidade, vão usar exemplos de quebra do monopólio da telefonia, o problema é que a energia é uma questão central diferente de outras que são de importância menor.
Concordo em parte com o texto, pois o ideal seria ponderar, mas vendo a forma que os neoliberais governaram o Brasil e os estados da federação, ou seja, estabelecendo o estado mínimo, devastando o serviço público a troco de menos imposto, não acredito que essas pessoas vão pensar no futuro do Brasil, pois enquanto vários países já aprenderam que as empresas estatais tem sua importância há uma classe política que só pensa em si, o duro é ver que essa classe deriva dos coronéis que usaram a seca para ganhar dinheiro durante anos.

marcus said...

Sabemos que o pre sal é uma realidade, o problema é garantir que o petróleo será de boa qualidade, para que compense o alto investimento que deverá ser feito. A discussão é muito abrangente, pois envolve várias vertentes tais como: matriz energética, gestão ambiental, investimentos públicos, ideologias políticas a qual não deveria influenciar, pois o pré sal é uma questão técnica e não partidária. Portanto concordo com o autor quando diz que deve ser avaliado por critérios empíricos, não por suposições ideológicas. A questão é de interesse público e seu resultado vira no longo prazo, após pelo menos 2 governos os resultados não são imediatos, e o resultado de toda a euforia poderá ser muito bom para o Brasil, mas se não der certo trará conseqüências desastradoras.

Raimundo P. Barbosa said...

Caros Colegas,

O assunto gestão de políticas públicas veio a calhar. No Brasil a gestão de políticas públicas passa ainda pelo ranço da indicação política para os postos de comando. Não é feita profissionalmente, já que os gestores não sobrevivem aos mandatos. Mudou o comando político, mudam-se os gestores, iniciam todo o trabalho novamente ao invés de dar continuidade ao que vinha sendo feito.
O esforço que está sendo feito para a regulamentação do pré-sal suscita o debate entre: os políticos, a sociedade, a academia, etc. Esse debate é feito pensando no crescimento econômico futuro e nos seus desdobramentos, o que é muito louvável.
Esse debate deveria ocorrer também em outras áreas. Está na hora de acontecer um choque de gestão na aplicação de recursos nas políticas públicas como educação, saúde segurança e outras. Essas três áreas gastam muito e gastam mal o dinheiro do contribuinte com resultados pífios. Nessas três áreas temos indicadores que se comparam aos países mais atrasados do mundo.
Por exemplo, temos analfabetos funcionais na última série do ensino médio, em Brasília que tem uma das melhores estruturas educacionais do país, imaginem vocês o acontece por esse país afora. No DF, o governo aplica dinheiro da saúde no mercado financeiro e deixa as farmácias dos hospitais sem remédios, sem falar que ninguém consegue atendimento médico satisfatório, porque as unidades estão sucateadas. Quanto à segurança, os indicadores mostram que todos os governos dos 27 estados brasileiros e o DF, estão perdendo de goleada para a insegurança, não é por falta de recursos, mais porque se gasta mal e os políticos se furtam ao debate para encontrar caminhos.
Minto, o debate ocorrerá durante a campanha política em 2010, como acontece de 4 em 4 anos, onde os candidatos dizem que essas áreas são prioritárias e depois do pleito volta tudo a estaca zero. A educação e a saúde têm passado por um processo de sucateamento para privilegiar o crescimento da iniciativa privada nesses dois setores
Boa reflexão,
Raimundo Pereira Barbosa

Raimundo P. Barbosa said...

Caros Colegas,

O assunto gestão de políticas públicas veio a calhar. No Brasil a gestão de políticas públicas passa ainda pelo ranço da indicação política para os postos de comando. Não é feita profissionalmente, já que os gestores não sobrevivem aos mandatos. Mudou o comando político, mudam-se os gestores, iniciam todo o trabalho novamente ao invés de dar continuidade ao que vinha sendo feito.
O esforço que está sendo feito para a regulamentação do pré-sal suscita o debate entre: os políticos, a sociedade, a academia, etc. Esse debate é feito pensando no crescimento econômico futuro e nos seus desdobramentos, o que é muito louvável.
Esse debate deveria ocorrer também em outras áreas. Está na hora de acontecer um choque de gestão na aplicação de recursos nas políticas públicas como educação, saúde segurança e outras. Essas três áreas gastam muito e gastam mal o dinheiro do contribuinte com resultados pífios. Nessas três áreas temos indicadores que se comparam aos países mais atrasados do mundo.
Por exemplo, temos analfabetos funcionais na última série do ensino médio, em Brasília que tem uma das melhores estruturas educacionais do país, imaginem vocês o acontece por esse país afora. No DF, o governo aplica dinheiro da saúde no mercado financeiro e deixa as farmácias dos hospitais sem remédios, sem falar que ninguém consegue atendimento médico satisfatório, porque as unidades estão sucateadas. Quanto à segurança, os indicadores mostram que todos os governos dos 27 estados brasileiros e o DF, estão perdendo de goleada para a insegurança, não é por falta de recursos, mais porque se gasta mal e os políticos se furtam ao debate para encontrar caminhos.
Minto, o debate ocorrerá durante a campanha política em 2010, como acontece de 4 em 4 anos, onde os candidatos dizem que essas áreas são prioritárias e depois do pleito volta tudo a estaca zero. A educação e a saúde têm passado por um processo de sucateamento para privilegiar o crescimento da iniciativa privada nesses dois setores
Boa reflexão,
Raimundo Pereira Barbosa

Prof. Cleber Alves da Costa said...

O Brasil está na era do pré-sal, hoje é uma realidade positiva para o Brasil, mais muitos pensam que isso vai durar eternamente. O país deve continuar investindo nas fontes alternativas de energia e não deixando que os olhos virem apenas para o petróleo. Uma outra realidade que são os royalties que são uma espécie de imposto pago pelas empresas que fazem a extração dos recursos vai para aquele de cujo subsolo marítimo foi retirado o mineral e vão para o estado produtor, ou seja, Isso provocará disputas contestatórias entre os estados. “É preciso que o royalty seja distribuído entre todos os estados. Sendo distribuídos, não haverá disputas", afirma a deputada estadual Rosane Ferreira (PV).