Sunday, April 18, 2010

O Papel da eletricidade na sociedade - Postagem A

Energia - 7 – 20/04/2010
Postagem “A”

Autora: Cilma Paula de Azevedo
Revisores (as): Andrea Bartonelli, João Batista de Freitas Brasil, Nanci Gharib Shehata e Paulo Tarso.

O Papel da eletricidade na sociedade.

A sociedade deve participar ativamente na definição do modelo de desenvolvimento que será utilizada em sua nação.
No Brasil observa-se que os governantes apresentam dificuldades em focar as suas políticas no desenvolvimento sustentável. Isto contribui para o aumento da utilização de energias não renováveis tais como as termelétricas que utilizam combustíveis fosseis como carvão, derivados do petróleo e gás natural. Os fatores que contribuem para isso foram: o racionamento de energia elétrica que ocorreu em 2001 devido às questões meteorológicas e ao investimento inadequado do Estado; o tempo de construção das termelétricas serem três anos – enquanto as hidrelétricas são cinco anos; o licenciamento ambiental das termelétricas é realizado em poucos meses, enquanto as hidrelétricas demoram alguns anos.
O Brasil possui condições favoráveis para a utilização das hidrelétricas. Segundo Rosa (2007), ocupamos a primeira posição mundial em recursos hídricos, 8,2 Km³ / ano. No entanto, utilizamos aproximadamente 25% do potencial hidrelétrico, já os EUA utilizam 80% mesmo sendo o sexto país no ranking de recursos hídricos tendo 2 Km³ / ano.

Observa-se que a tendência de abandono da hidroeletricidade é ocasionada pelos aspectos ambientais e dos movimentos contra grandes represas. O que falta por parte do Estado é habilidade e interesse em negociar com a sociedade, especialmente os movimentos ambientalistas, para mostrar a qualidade dos seus projetos e quando houver embasamento no posicionamento da sociedade civil rever as dimensões das áreas inundadas. Temos o exemplo da Eletrobrás que reduziu a área inundada de Belo Monte para diminuir os impactos ambientais.

Já na utilização da geração nuclear de energia elétrica no Brasil, as construções foram iniciadas no governo militar (1970/1980), onde foi assinado um Acordo Nuclear em 1975 com a Alemanha e o objetivo era de construir oito reatores de 1.300 MW e, ainda, realizar a transferência da tecnologia do ciclo de combustível. Hoje somente um reator do Acordo foi construído, o de Angra II. Embora a energia nuclear não emita gases de efeito estufa, comparada as termelétricas, apresenta-se as seguintes críticas: o passivo ambiental alto; a falta de solução mundial na destinação dos rejeitos de radioatividade; e a insuficiência do plano de evacuação da população vizinha.

Diante deste contexto a WWF, ONG - Organização Não Governamental, e outros parceiros encomendaram, aos pesquisadores da Unicamp e do International Energy Initiative, o estudo intitulado “Agenda Elétrica Sustentável 2020” que faz a recomendação que a segurança energética e a climática no Brasil, seja realizada por meio de uma política mais agressiva em eficiência e da implantação de mais fontes de energia renovável.

Foram comparados dois cenários: o Tendencial que segue as tendências atuais a partir de dados oficiais e o Elétrico Sustentável que busca a sustentabilidade. Ambos os cenários tiveram as mesmas hipóteses de crescimento e condições de desenvolvimento da população.

Caso seja colocado em prática a Agenda Elétrica Sustentável serão alcançados os seguintes resultados em 2020: haverá a redução de demanda de eletricidade em até 40%; ocorrerá a economia de 33 bilhões de reais na conta nacional de eletricidade; as emissões de CO2 se estabilizam na faixa de 20 milhões de toneladas CO2; as emissões de óxido de nitrogênio (NOx) poderão ser reduzidas de 7 milhões em 2004 para 5,5 milhões de toneladas de NOx para o ano 2020, mas poderiam atingir 17 milhões de toneladas em 2020 no cenário Tendencial; quanto a comercialização dos créditos de carbono resultantes do cenário Elétrico Sustentável – utilizando a projeção para 2020 de 32 euros / ton CO2 - haveria um crédito de R$5,6 bilhões ou cerca de 2% do seu custo total; serão evitadas a emissão de 413 milhões de toneladas CO2, superando a marca de 403 milhões de toneladas de CO2 evitadas pelo Proálcool de 1975 e 2000.

O Plano para a Agenda Elétrica Sustentável 2020 indica as seguintes medidas:

Leilões de eficiência energética: determinando a quantidade certa de energia a ser conservada e a sua respectiva comercialização;

Padrões de eficiência energética: A Lei de Eficiência Energética deve ter sua implementação priorizada, por meio de aprovação acelerada de padrões de desempenho energético para equipamentos com índices mais agressivos de redução de consumo, com a promoção de tecnologias e processos mais eficientes em toda a cadeia produtiva e implementar políticas dirigidas para redução de perdas técnicas de transmissão e distribuição;

Licitações tecnológicas: O setor público representa cerca de 10% do consumo total de eletricidade e podem especificar padrões de desempenho para estimular o desenvolvimento e oferta de produto para atender a demanda;

Metas para investimentos em eficiência: Os investimentos compulsórios das empresas de eletricidade em seus programas de eficiência energética e Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), além de melhorar a coordenação do Fundo Setorial de Energia (CTEnerg) e definir metas para os resultados de investimentos em eficiência com o fortalecimento do monitoramento, a verificação e avaliação de resultados em termos de MWh conservados e MW evitados, resultantes da aplicação desses recursos;

Programa Nacional de Geração Distribuída (Progedis): neste programa estariam previstos incentivos estáveis, transparentes e que permitam o aproveitamento do potencial dessas tecnologias;

Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica. Segunda fase (Proinfa II): O anúncio e a implementação de uma segunda fase do Proinfa têm como objetivo garantir 10% da produção de eletricidade a partir de fontes renováveis, até 2010, e chegar a 20% em 2020;

Programa Nacional para a Energia Solar Térmica (Prosolter): aproveitar efetivamente o potencial da energia solar térmica no Brasil, criando um programa nacional para essa fonte de energia limpa e barata;

Redução dos subsídios para as fontes convencionais de energia: É necessária uma redução e eventual eliminação de subsídios para fontes convencionais, como a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) que distorce o mercado em favor de combustíveis fósseis como carvão e diesel;

Disseminação constante de informação: fortalecer os programas de informação, tais como o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), o Programa Nacional de Racionalização do Uso de Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet) e das próprias companhias de energia, mantendo continuadamente e regularmente a disseminação de informações atualizadas sobre tecnologias de energia e maneiras mais eficientes de sua utilização.

O desafio é grande e muitas pessoas podem achar uma utopia a Agenda Elétrica Sustentável 2020, mas se houver interesse de todos na utilização de uma matriz energética mais limpa o Brasil - tendo como referência a Agenda ou/e outras propostas - poderá fortalecer seu papel nas negociações internacionais sobre energias renováveis e mudanças climáticas.

Referências Bibliográficas


ROSA, Luiz P. Geração hidrelétrica, termelétrica e nuclear. Estudos Avançados.São Paulo, vol.21, n°59, Jan./Apr. 2007

WWF – Brasil, Cenários para um setor elétrico eficiente, seguro e competitivo. Estudos Avançados.São Paulo, vol.21, n°59, Jan./Apr. 2007

9 comments:

Nanci Ambiental said...

A matriz energética mais limpa e abrangendo aspectos de sustentabilidade ambiental em sua elaboração, com certeza beneficiará toda a trajetória de meio ambiente deste setor. As dificuldades que os governantes possuem na implementação de fontes mais limpas, depende também da pesquisa e desenvolvimento aplicados a esta área; profissionais preparados para lidar com esta temática; e estudos específicos para comprovar dados, e até mesmo eficiências nestas novas formas de exploração de energias mais limpas. Assim desenvolvimento sustentável na matriz energética é necessário, o que não podemos é frear o crescimento econômico do país, mas sim, torná-lo cada vez mais adequado para os moldes ambientais, respeitando as leis da natureza.

WJr. said...

Essas ferramentas (Agenda Elétrica Sustentável 2020, Matriz Energética Nacional 2030, BEN e outras), são fundamentais para realização de um planejamento energético, por exemplo no Brasil. Porém, ao mesmo tempo, são ferramentas desafiadoras na posse de um gestor público. O desafio, aqui considerado como negativo, poderá abrir possibilidades de caminhos tedenciosos, no qual alguns setores da economia determinam a "regra do jogo".

Adilson said...

O problema de países em desenvolvimento como o Brasil quando à produção e uso da energia elétrica está no fato de precisar crescer muito economicamente, isso implica que a energia elétrica deve estar disponível rapidamente, o que leva a geração de energia por meio das usinas termoelétricas entre outras, por demandarem menos tempo. Isso mostrar a falta de planejamento estratégico do Estado brasileiro bem como falta de visão comercial, uma vez que o país está indo na contramão do mundo e pode ter enormes prejuízos na sua relação comercial com paises que colocam a temática ambiental na ordem do dia. Desse modo, o Estado deve rever sua política desenvolvimentista (crescimento econômico a todo custo) e perceber que ter uma “Agenda Elétrica Sustentável” pode significar maiores oportunidades comerciais para o país, bem como melhores condições socioambientais para seu povo.

Brasil said...

Face ao trabalho da WWF, ONG - Organização Não Governamental, e outros parceiros sobre o estudo intitulado “Agenda Elétrica Sustentável 2020” (No caso específico do Brasil) o que se pode dizer é que as fontes renováveis (as hidroelétricas, a energia eólica, geotérmica, solar e a energia dos oceanos, e outras) tem a capacidade de suprir uma enorme parcela da demanda de energia. Evidentemente que, na implantação dessas energias com o uso racional e planejado, também há de se verificar fatores importantes como a viabilidade econômica, a sustentabilidade da fonte fonte e a disponibilidade do recurso destinado à obtenção da energia que varia de país para país.
As energias tradicionais, principalmente as não renováveis, estão sendo muito combatidas exatamente por causar grandes impactos e ameaças constantes ao meio ambiente. Por isso estão sendo gradativamente substituídas pelas que não prejudicam a natureza, são renováveis e perenes.
No Brasil, nossos governantes têm cada vez mais que aumentar o uso das energias renováveis e diversificar o leque do uso das fontes de geração de energia, para nos precaver inclusive dos riscos dos constantes apagões provenientes das hidrelétricas (nossa maior produtora de energia elétrica) tanto nas fases de geração, transmissão e distribuição que constantemente apresentam problemas pela falta de manutenção e investimento na área.

José Carlos said...

Realmente, a chave para uma matriz energética integrada e sustentável está no diálogo. Não adianta "tapar o sol com a peneira" partindo para as usinas térmicas como solução, fugindo do choque com a comunidade e com a legislação ambiental mais rigorosa. Os impactos acontecerão do mesmo jeito e todos nós iremos sofrer com isso. O Governo e os grandes empreiteiros devem considerar os aspectos sociais, além, é claro, dos aspectos ambientais em seus planejamentos. A "Agenda Elétrica Sustentável 2020", embora muito focada na questão de emissões, é uma excelente ferramenta para sugerir mudanças futuras. Sempre lembrando que o Brasil possui um potencial incrível para as energias renováveis, onde deverá haver o investimento em não apenas uma, mas em várias fontes renováveis.

Marcelo Wolter said...

O Brasil tem potencial para utilizar em larga escala fontes de energia mais limpas e renováveis. Já existe um esforço de uma parcela da população para a utilização desse tipo de energia. A Agenda Elétrica Sustentável 2020 aparece como uma ferramenta para que outra parcela da população e, mais importante, os tomadores de decisão passem a enchergar a necessidade de uma mudança e a potencialidade que nosso país oferece nessa área.

Anonymous said...

Concordo com os colegas e com o que traz o texto postado pela colega Cilma de que o desenvolvimento so se faz com a participação popular. Se conseguimos atingir as metas definidas pela Agenda Elétrica Sustentável 2020, o país so tem a ganhar e estará mais próximo do tão sonhado desenvolvimento sustentável. A diversificação da matriz, na minha opinião, é uma alternativa possível e necessária. Não é porque temos que crescer que tenhamos que crescer sem rumo e sem projeto definido. Planejamento, boa gestão e participação da sociedade são a chave para este crescimento "organizado" e sustentável.

Andréa Bartonelli said...

A Agenda Elétrica Sustentável 2020 é uma referência para que todo administrador responsável e comprometido com o futuro do país tenha em mente na hora de encaminhar políticas públicas para o setor.

Ivan Freitas said...

O desafio é manter a estrutura energética brasileira em condições competitivas no mercado internacional, ao mesmo tempo tentando minimizar os impactos ambientais inevitáveis dos empreendimentos energéticos.
A redução da intensidade energética do PIB deve ser estabelecida como política nacional de longo prazo, como no passado foi a substituição de importações.