Monday, April 19, 2010

O papel da eletricidade na sociedade. Postagem "B"

Energia - 7 – 20/04/2010
Postagem “B”

Autor: Paulo Silva
Revisores (as): Andrea Bartonelli, Cilma Paula de Azevedo João Batista de Freitas Brasil e Nanci Gharib Shehata.

O papel da eletricidade na sociedade.

Ficando claro que ao acionarmos o interruptor de luz da nossa casa, facilitando nossas vidas no mundo de hoje, estamos utilizando um serviço essencial, que é o resultado de um complexo sistema interligado, que utiliza recursos naturais, promovendo a conversão e o transporte da energia elétrica que move o desenvolvimento e possibilita à modernidade participar do nosso cotidiano, é importante destacar que no Brasil, utilizamos cerca de 30% do nosso potencial hidrelétrico, enquanto que Europa e Estados Unidos, já utilizam quase todo seu potencial.

Segundo o Atlas de Energia da ANEEL, 95% da população é atendida pelo mais universalizado dos serviços, a eletricidade.
Nosso sistema, que utiliza em sua quase totalidade a energia hidrelétrica, dispõe de mais de 90 mil quilômetros de linhas de transmissão que são operadas por 64 concessionárias. Na geração de energia o Brasil conta com 1768 usinas em operação, sendo 159 hidrelétricas, 320 pequenas hidrelétricas (PCHs), 2 usinas nucleares, 1.048 termoelétricas ( gás, biomassa, óleo diesel e combustível), 227 centrais hidrelétricas - 1 solar, que correspondem a uma capacidade instalada de 104816 MW ( mega watts).

Novas e polêmicas obras estão projetadas, e em processo de implantação, o que tem gerado atritos entre a União, responsável pela política energética, e os atingidos por essa ação, geralmente ribeirinhos e pequenos proprietários, ou índios , que habitam as proximidades das áreas atingidas pela inundação, e formação do lago acumulador do potencial hidrelétrico. E, também, de movimentos ambientalistas.

Nesse universo de grande contencioso, Nogueira (2007) busca inspiração na experiência de países que esgotaram seus potenciais e investiram, nos últimos anos, na conservação de energia. O autor chama de fonte oculta de energia, o equacionamento das perdas e o uso racional da energia gerada.

Os efeitos termodinâmicos da conversão, acumulação e transmissão, produzem inevitáveis perdas, intrínsecas aos sistemas elétricos. Nogueira (2007) propõe classificar suas causas, separando-as em três grupos:
1- Projeto Deficiente: Concepção errônea do desempenho de materiais, do processo de fabricação, etc.
2- Operação Ineficiente: Operadas de forma perdulária ou irresponsável.
3- Manutenção Inadequada: procedimentos inadequados de manutenção corretiva e preventiva, com corretas regulagens e controle dos sistemas.

Os estudos preliminares que projetam cenários energéticos para o ano 2030, indicam valores expressivos resultantes das ações que poderão ser implementadas objetivando a conservação de energia, minimizando o descompasso entre as disponibilidades e as demandas do setor elétrico.

Esses estudos sugerem medidas para o incremento de ações que busquem eficiência energética classificando o mecanismo de fomento em dois perfis:
A- Mecanismo de base tecnológica: que implica na implementação de novos processos e na utilização de novos equipamentos que permitam reduzir as perdas de energia;
B- Mecanismos de base comportamental: que se fundamenta nas mudanças de hábitos e padrões de utilização, reduzindo o consumo energético sem alterar o parque de equipamentos conversores de energia.

Imagina poder obter de 15 a 30% de economia junto ao setor residencial, somente por alterações de hábitos de impacto energético, como ajuste dos termostatos das geladeiras e dos aparelhos de ar condicionados. A freqüência do uso de ferros elétricos de passar roupas e máquinas de lavar.

Numa outra vertente, a busca do conhecimento mais aprofundado dos sistemas energéticos, no tempo e no espaço, conceito que extrapola os equipamentos considerando os insumos e os efeitos de suas fabricações, operações e disposições finais. Essa abordagem que utiliza como instrumento a análise do “ciclo de vida”.
Entender a importância do uso irracional e da gestão da demanda de energia tem promovido importantes decisões governamentais em diversos países, principalmente os mais desenvolvidos, que atingiram um patamar limítrofe do uso de seus potenciais e que obtiveram significativos resultados sobretudo benefícios ambientais decorrentes do consumo energético.

Usaram a estratégica da propaganda e sensibilização por vários meios de comunicação objetivando a conscientização da sociedade para o uso eficiente da energia, estabelecendo normas, incentivos financeiros para produtos equipamentos e serviços que possibilitassem melhorias na eficiência energética.

No Brasil o primeiro programa denominado CONSERVE, de 1981, promoveu diagnósticos em estabelecimentos industriais e comerciais para identificar o potencial de redução das perdas de energia. E, em 1984, o INMETRO, iniciou um programa voltado para a avaliação de desempenho e informação aos consumidores, que possibilitou uma importante articulação entre fabricantes e fornecedores. Em 1985 foi criado o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, com ampla ação em diversos setores, obtendo expressivos resultados e de modo complementar a Agencia Nacional de Energia Elétrica - em 1999-, promoveu o Programa de Eficiência Energética (PEE), que orienta a aplicação de 0,5% do faturamento das concessionárias de energia elétrica, na conservação e eficiência energética. O programa possibilitou a redução de 20% do consumo de energia.

No entanto, Nogueira (2007) enxerga a cogeração de energia como importante fator de potencial ignorado do uso eficiente dos recursos energéticos, pois passa despercebida pela maioria dos consumidores de combustível em aquecedores, fornos e caldeiras. Ao utilizar de forma simplificada os balanços para avaliação de desempenhos desses equipamentos térmicos, é usual determinar rendimentos elevados, dando a impressão que as perdas de energia observadas pelas chaminés representam uma pequena parcela associada ao processo de combustão e transferência de calor.
Entretanto, ao aplicar corretamente os princípios da termodinâmica, observa-se que utilizar um combustível com temperaturas de chama superior a 1200°C, para atender demanda térmica a temperaturas inferiores a 200°C, perde-se importante capacidade de produzir potência útil.

Como exemplo de emprego satisfatório de cogeração, o autor cita as usinas de açúcar e etanol, que queimam o bagaço da cana em caldeiras, gerando vapor de alta pressão que se expande em turbinas até a pressão utilizada no processo industrial, gerando grande quantidade de energia elétrica e alcançando a auto-suficiência do consumo. Também a indústria química, têxtil, centros comerciais, hotéis, aeroportos, hospitais, dentre outros, poderão com eficiência adotar a cogeração promovendo assim, uma grande mudança no sistema energético brasileiro.

Em muitos países industrializados a combinação energia elétrica mais calor útil, tem sido estimulada com significativos ganhos econômicos e sobretudo ganhos ambientais. Nos Estados Unidos, só em cogeração estimulada nos últimos 15 anos, a capacidade instalada é igual à capacidade instalada de todo sistema hidrelétrico brasileiro. Baseado em dado como esse, Nogueira (2007), propõe a revisão dos marcos regulatórios da política brasileira, para que ao buscarmos a eficiência e conservação de energia possamos compreender que ela é um meio e não um fim.

Referências Bibliográficas

NOGUEIRA, Luiz A. H. Uso racional: a fonte energética oculta. Estudos Avançados.São Paulo, vol.21, n°59, Jan./Apr. 2007

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Matriz Energética Nacional 2030. Brasília, 2007.

Atlas da Energia Elétrica no Brasil, 2008. ANEEL. 3ª Edição. 236p. il.

11 comments:

Cilma Azevedo said...

A cogeração de energia é uma estratégia interessante para prática do desenvolvimento sustentável, pois propicia a redução dos impactos ambientais por meio do aumento da eficiência energética das instalações e estimulando a produção descentralizada de energia.
Para incentivar a utilização deste sistema aANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) define os critérios para classificar uma central termelétrica como cogeradora. Além disso, especifica incentivos como a redução de tarifas de uso do sistema elétrico.

Mais informação no
http://www.infoescola.com/energia/cogeracao/

Adilson said...

É interessante notar que houve uma redução da demanda de energia elétrica por parte da indústria (setor que mais consome) (192,616 twh) e paralelamente houve um aumento da demanda de energia elétrica por parte das residências (segundo setor que mais consome) (90,881 twh), tornado-se assim o segundo maior consumidor de energia elétrica do país (Ben, 2007). Parece que o setor industrial tem colocado em prática a questão da eficiência energética, seja revendo suas praticas, seja investindo em equipamentos mais eficientes. Por outro lado, isso nos leva a questionar o programa de conservação de energia voltado para a população, mesmo sabendo que houve aumento da demanda em decorrência do crescimento econômico plasmado na compra de eletrodoméstico, por exemplo. Nesse sentido, não podemos esperar outros ‘apagões’ para incrementar uma política de eficiência energética no país, uma vez que ela geralmente ocorre em tempos de crise (Nogueira, 2007). Por fim, o bom ou o mau uso da energia elétrica disponível passar tanto pela consciência que é ela é um bem limitado quanto por achar que nossa matriz energética por ser basicamente de origem hidráulica, - e temos muita água -, podemos abusar.

Brasil said...

O uso racional da energia não renovável e a busca pelas energias renováveis que causam menos impactos ao meio ambiente são hoje em dia as premissas principais das políticas das nações do mundo.
Assim, deve ser ressaltada a importância na implantação de políticas e diretrizes relacionadas à pesquisa, desenvolvimento, implantação de projetos de conservação de energia e energia renovável minimizando os custos de investimentos e operações com a modernização das instalações com o objetivo de aumentar a eficiência energética.
Esse projeto, que inclui entre outras ações importantes a da conservação e cogeração de energia, envolve as características técnicas dos equipamentos, dos processos produtivos, dos bens produzidos, das formas de uso final e das condições econômicas em cada realidade.
Conservando a energia e tomando o cuidado de não causar impacto ao meio ambiente proveniente do processo produtivo devem ser meta e prioridade para as empresas e indústrias. Elas devem ter em mente ter um consumo menor de energia tendo em vista cortar custos. O objetivo é procurar novas fórmulas, métodos e melhorias no processo existentes no sentido se obter melhor eficiência e menor agressão ao meio ambiente.

WJr. said...

Como o Paulo citou, o Brasil utiliza em torno de 30% do seu potencial hidrelétrico. Os EUA, por exemplo, é o sexto país do mundo em potencial hidrelétrico, e utiliza 80% de sua capacidade. O que não pode é investir em fontes energéticas caras, e ao mesmo tempo com grande potencial poluidor. No planejamento energético, deve-se levar em consideração, principalmente, os fatores econômicos e ambientais. Esse é o desafio dos próximos anos. O que pode ser viável em uma região, não necessariamente será uma regra para outras regiões.

José Carlos said...

Fantástica a economia de energia que a cogeração pode proporcionar. Não tinha conhecimento da quantidade que poderia ser reutilizada. "Nos Estados Unidos, só em cogeração estimulada nos últimos 15 anos, a capacidade instalada é igual à capacidade instalada de todo sistema hidrelétrico brasileiro". Isto nos mostra que a saída não está na construção de novas usinas hidrelétricas, térmicas ou nucleares. A grande questão está na manutenção do que já temos, além da conscientização da sociedade na utilização da energia. Mais uma vez, notamos que é necessário um esforço coletivo de todos os atores envolvidos e não jogar a culpa em apenas uma pessoa. O conceito de fonte oculta adotado por Nogueira é muito interessante, sendo que a sua conciliação com o conceito de cogeração pode nos dar a resposta para a tão sonhada matriz energética sustentável.

Nanci Ambiental said...

Mais uma vez, o modelo comportamental de consumo de energia vem impactando direta e indiretamente na tomada de decisões da matriz energética. As perdas de consumo desnecessárias por parte ou de manutenções inapropriadas ou por processos de produção de energia equivocados, também colaboram para uma ineficiência da matriz. A produção de energia atrelada a queimas em caldeira têm demonstrado auto – suficiência do consumo, pois no exemplo das usinas de açúcar e etanol, que queimam bagaço de cana, a geração de vapor a alta pressão que se expande em turbinas estão obtendo sucesso em sua forma de geração de energia. Assim o estudo da matriz energética brasileira precisa de impulsos positivos para novas tecnologias de energia mais limpa, impulsionando a uma evolução para as futuras tomadas de decisão.

Marcelo Wolter said...

A cogeração de energia é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento socio-econômico e ambiental. A redução no consumo de energia propiciado pela cogeração possibilita investimentos em outras áreas. Uma correta manutenção e a adoção de tecnologias mais novas, permite uma redução das perdas e aumento da eficiência na geração e distribuição de energia, principalmente elétrica. Isso mostra que atitudes simples são, muitas vezes melhores, que a construção de novos, gigantescos e caros empreendimentos. Uma ação de educação da sociedade e das indústrias poderia desafogar nosso sistema elétrico de forma barata e eficiente.

Anonymous said...

Assim como o colega José Carlos, eu fiquei surpreso com a capacidade que a cogeração pode proporcionar em termos de energia disponível e barata. Realmente, parafraseando o colega Marcelo Wolter, ações simples evitam desperdício em obras monumentais e caras. Mas do que nunca fica claro que a gestão da energia deve passar por um olhar estratégico, desde a fonte de geração, à manutenção e ações de cogeração. Assim se alcança eficiência energética e sustentabilidade ambiental...

Emanuele Abreu said...

Sabendo que em um sistema de geração de energia convencional a maior parte da energia contida no combustível é perdida na forma de calor e menos da metade é de fato transformada em energia elétrica,é importante sim a ANEEL reduzir as tarifas, como bem mencionou a Cilma, a fim de incentivar a utilização da cogeração, tendo em vista que a utilização desse sistema que traz benefícios tanto econômicos quanto ambientais.

Andréa Bartonelli said...

Concordo totalmente com o autor do artigo e acrescento que o Brasil possui um potencial ainda não explorado de cogeração de energia que pode nos levar a dar um salto exponencial: a multiplicação de pequenos projetos de cogeração de energia pela enorme capilaridade da agricultura familiar e de pequenos condomínios urbanos e conjuntos residenciais, desde que orientados e incentivados por políticas públicas voltadas para o setor.

Ivan Freitas said...

O grau de eletrificação de uma estrutura produtiva pode ser empregado como índice de desenvolvimento econômico e social.
Daí a importância de programas de universalização do acesso à energia elétrica, principalmente no atendimento de comunidades remotas, distantes das redes elétricas comerciais.