Wednesday, March 24, 2010

Considerações analíticas e conclusões sobre o Balanço Energético Nacional

Conforme BEN 2009 e dados do BEN 2006

Villi Seilert
Grupo 02

Revisores:
Luciano, Eric e Adilson

Considerando todas as formas de energia utilizadas, foram consumidos, em 2008, 252 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), um crescimento expressivo de 5,6% em relação a 2007.

Com exceção da energia hidráulica, houve expansão do consumo de todas as principais formas de energia primária. Conforme indicado no BEN 2009, o gás natural foi a fonte de energia que mais cresceu, secundado pela cana-de-açúcar e pelo petróleo, e algum nível de expansão de outras renováveis.

Com relação aos combustíveis, o grande destaque foi a expansão 17,7% do consumo de etanol. O aumento do consumo de álcool hidratado, de 28,2%, foi ainda mais significativo, tendo sido consumidos mais de 17,5 bilhões de litros no país. Foram exportados mais de 5,1 bilhões de litros de etanol (+45%). Com isso, a cana-de-açúcar consolidou-se como a segunda principal fonte de energia primária brasileira, contribuindo para que mais de 45% da matriz energética nacional seja renovável.
(essa é uma conclusão da EPE)

O decréscimo da energia hidráulica refletiu as condições hidrológicas observadas no início de 2008, que impuseram esquemas operativos orientados a manter níveis estratégicos de armazenamento nos reservatórios do país.

A outra face desse quadro foi o aumento da geração termelétrica (+37,9%), o que contribuiu para o forte incremento do consumo de gás natural.

Conclusão 01: Considerado apenas os usos finais (isto é, excluindo o consumo na transformação), o consumo de energia no Brasil cresceu 5,2% em 2008, atingindo 211,9 milhões tep. A variação ficou muito próxima à registrada do Produto Interno Bruto (PIB), de 5,1%. O consumo total de eletricidade cresceu 4,0%.


Mas, e aí, para que serve e para quem vai a melhor parte do bolo da energia nacional?

Comparemos a produção energética com os processos produtivos do nosso país e vejamos alguns aspectos do que se passa nas decisões dos gestores do sistema de produção energético brasileiro, agora considerando dados de 2006:

Em 2006, o Brasil foi o:
6ºmaior produtor mundial de alumínio primário – 1,605 milhões ton.
10º maior produtor mundial de aço bruto – 30,9 milhões ton.
6º maior produtor mundial de celulose – 11,2 milhões ton.
11º maior produtor mundial de papel – 8,7 milhões ton.
6º maior produtor mundial de ferroligas – 1,2 milhões ton.
1º maior produtor mundial de minério de ferro – 317 milhões ton.
Fonte: Instituto de Eletrotécnica e Energia – IEE –USP, 2007


O consumo dos 5 principais setores (alumínio, ferroligas, siderurgias, papel e celulose e cimento), corresponde a 37,1%do consumo industrial, e por 17,5% do consumo total de eletricidade no país

A energia elétrica incorporada nestes produtos representa 15,9% do consumo total de eletricidade no país (ano-base: 2006). Considerando a energia total consumida no país, esta parcela representa significativos 7,5%.

Esta exportação consumiu 43% da eletricidade e 77,8% da energia total contida nos produtos produzidos pelos cinco setores considerados.
Fonte: IBS - Anuário Estatístico: 2006 e 2007.

Conclusão 02: O Brasil ainda está muito concentrado nas commodities, nos produtos básicos e de baixo valor agregado.
A produção industrial brasileira está se inserindo no processo de globalização da economia internacional, limitando-se ao papel de mero exportador de produtos básicos para “gringos”.

Conclusão 03: Em se mantendo este perfil industrial, os danos e impactos ambientais tendem a ser crescentes, em parte pelas necessidades de grandes projetos hidroelétricos para suprirem a demanda de energia destes setores e pela extração crescente de recursos naturais que são encontram seus preços determinados pelos mercados, sem que os custos ambientais e sociais sejam incorporados neste tipo de produto. Veja o que ocorre com o setor mineral, há séculos submetido a um regime de fraude contábil e tributária.

Conclusão 04: Há a necessidade da implementação de políticas públicas que estabeleçam metas objetivas de redução do consumo de energia a este grupo de indústrias, por meio de medidas que incentivem a modernização das plantas produtoras e o surgimento de inovações que possam reduzir o consumo energético no processo produtivo.

19 comments:

José Carlos said...
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José Carlos said...

Como citei anteriormente, a energia utilizada para geração de produtos primários não é taxada ou cobrada na exportação. O Brasil necessita rever estas políticas públicas. A nossa energia, as nossas matérias primas e a degradação dos nossos ecossistemas não estão refletidos nos produtos exportados. E na citação do texto, grande parte do consumo e utilização de nossa energia é na fabricação de produtos básicos e primários, ou seja, a maior parte de nossa energia não é para nós e sim para fora.

Debora said...

Como se pode notar o Brasil continua com deficits na area das energias, produzidos principalmente pelas industrias, e o nosso ecossistema tem pago um preço muito alto por tudo isso. Será que só politicas publicas resolveram a questão?

Brasil said...

Importante salientar que as estatísticas mostram que nos últimos anos o Brasil aumentou o consumo de todas as formas de energia, com exceção da energia hidráulica. Isso implica em dizer que houve um incremento significativo não só nas energias ditas sujas (petróleo, gás natural, carvão) mas nas energias limpas também como o caso da energia proveniente da cana de açúcar (álcool etílico /etanol) vista como modelo para os países do mundo inteiro.
Pelo que foi divulgado no balanço energético brasileiro mais recente, fica fácil perceber que as decisões das autoridades brasileiras que tratam do assunto em pauta deveria se comprometer mais com a produção de energias com baixo impacto ambiental, se adequando cada vez mais às exigências provenientes dos fóruns internacionais sobre as mudanças climáticas em nosso planeta. Como exemplos que vem na contramão das energias renováveis estão as licenças ambientais concedidas pelo governo para a implantação de usinas termelétricas que usam como combustível ou o carvão ou o óleo combustível. Está provado que essas usinas lançam na atmosfera uma quantidade muito grande de CO2 comprometendo de forma significativa a atmosfera. Mesma consideração com relação ao gás natural, pois, mesmo sendo responsável por um terço das emissões usando óleo combustível ou carvão, o custo de produção da energia é altíssimo pelo fato de depender muitas vezes de combustível importado.
Em vista do exposto, torna-se fundamental que os países invistam mais em energias limpas com medidas que não contribuam para o aquecimento global com emissões perigosas que alterem para pior as condições climáticas do planeta.

Dilma Bowen said...

Qual a relação entre energia e o sistema sócio-político-ambiental?
Vivenciamos a era dos combustíveis renováveis e não renováveis e ainda não nos posicionamos quanto aos 200 anos de história da era do petróleo. Podemos verificar que o petróleo, a fissão nuclear, as grandes hidroelétricas, o carvão mineral, o xisto betuminoso, entre outros, pelas suas dimensões de escala são incompatíveis com um sistema socialmente igualitário e, contrariamente, são harmônicos com o grande capital financeiro.
Valoração ambiental, justiça social, políticas econômicas, o que realmente estamos discutindo?

Ivan Freitas said...

Parabéns, Villi. Nada mal para um calouro em seu primeiro blog: claro, lúcido, direto e suscinto (até demais): energia para quem? Sobre o comentário do Brasil (energia de onde?): o calcanhar de Aquiles dos sistemas elétricos de base predominantemente hídrica reside em depositar toda a confiança na boa vontade de São Pedro. Na medida em que os projetos de novas hidrelétricas atrasam na fase de licenciamento, abre-se espaço para gambiarras mais expeditas: a gás boliviano, óleo pesado, carvão inerte, nuclear, e por aí vai. No meu tempo essa situação só tinha um nome: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

WJr. said...
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WJr. said...

Está mais do que claro, que o foco da discussão sobre o processo da economia, gestão e inovação energética, não pode limitar-se, tão somente, ao público - de uso doméstico. Esse foco deve ser expandido para outros segmentos do mercado.

Cilma Azevedo said...

Os dados confirmam que o governo tem que fortalecer ou criar políticas públicas efetivas para aumentar a eficiência energética no setor industrial. Além disso, a reestruturação da produção industrial poderá ser alcançada se houver mais investimento na educação de qualidade, que é primordial para estimular o desenvolvimento de novas tecnologias, se o definirmos como prioridade o crescimento da nossa nação focada não somente no aspecto econômico, mas com equilíbrio entre as questões ambientais, sociais e econômicas.

Marcelo Wolter said...

Em linhas gerais, observa-se uma mudança comportamental no quadro de energia brasileiro. O aumento no uso de etanol é de extrema importância, porém deixa uma dúvida no ar. Estamos criando uma nova mudança nos nossos padrões de consumo e tantando sair da era do petróleo? Ou estamos apenas fugindo dos preços do petróleo que estão cada vez mais elevados por questões polícas? O ideal seria responder sim para a primeira pergunta, pois já mostraria uma boa vontade da sociedade brasileira em adotar novas tecnologias mais limpas como fonte de energia. Mas será mesmo possível responder sim para a primeira pergunta?

Paulo Silva said...

Das quatro conclusões e em cada uma delas, pode-se observar a complexidade de análise da correlação oferta/demanda, da geopolítica energética, das necessidades circunstanciais e permanentes de utilização deste ou daquele recurso e das decisões que envolvem múltiplos interesses no fascinante mundo da energia. Por ele, passa a definição de dominadores e dominados, desenvolvidos e pobres.
Múltiplos são os fatores a serem considerados as variáveis vão desde imponderáveis e ocultas até as mais elementares por exemplo: como explicar ser o Brasil apenas o 10° produtor mundial de aço bruto e ser o maior fornecedor de minério de ferro para os demais países, nove, que estão a sua frente na produção de aço?
O Brasil tem mercado para fornecer minério de ferro, mas não tem para o de aço. A Nipon Steel, grande compradora de minério de ferro e uma das maiores produtoras de aço do mundo, fornece a maior parte do aço para a indústria automobilística japonesa.
Cabe-nos como sugerem os colegas da PGA estabelecer políticas de médio e longo prazo com cuidado no viés ambiental, mas sem perder de vista que ter o domínio sobre as diversas formas de energia é que nos assegurarão importância na conjuntura internacional.

Nanci Ambiental said...

No texto apresentado visualizamos o crescimento do Brasil em vários setores de exploração energética e consequentemente o aumento do seu PIB.
A economia do Brasil esta amarrada à exportação de matéria prima ou produtos básicos para o mercado, sobrecarregando sua matriz energética e necessitando investir nesta demanda que cresce cada vez mais.
Os recursos naturais cada vez mais explorados, seja de forma limpa ou não, para atender a uma demanda de energia que muda conforme a tendência deste mercado que ora lança algum “produto - flex” e ora a necessidade de uma “energia – flex”, esgotando assim a capacidade do meio natural recuperar esses impactos sejam positivos ou negativos, só depende do “point of view”!

Adilson said...

Embora o consumo de eletricidade tenha aumentado 4% em 2008, a produção de energia elétrica de origem hidráulica reduziu em comparação a 2007. Isso apenas reforça a tese já comentada de que nossa matriz enérgica está ficando ‘suja’, ou seja, está se aumentando (37,9) a produção de energia elétrica por meio das termoelétricas. Nesse sentido, por mais que o consumo doméstico de eletricidade tenha aumentado em função do aumento do consumo de produtos eletroeletrônicos bem como a democratização do acesso à energia elétrica, boa parte desse incremento do consumo é devido ao aumento da produção industrial e ao aumento da produção de produtos primários como (alumínio, ferroligas, siderurgias, papel e celulose e cimento), logo boa parte do aumento de produção de energia elétrica por parte das termoelétricas foi para alimentar esses setores os quais são responsáveis por enormes passivos ambientais e por um questionável retorno econômico ao país como bem salientou o colega Villi. Assim, teria sentido perguntar se valerá a pena o Brasil aumentar a produção de energia por meio das termoelétricas para alimentar setores que deixam como subprodutos de suas operações uma enorme dívida ambiental? Portanto, é importante saber quais são os setores que mais usufruem da energia elétrica produzida pelo país, porém é tão importante quanto, saber quem pagará a conta. Está aberto um amplo campo de discussões envolvendo o conceito de 'justiça ambiental'.

Anonymous said...

Zé, eu extendo seu comentário: o pior é priorizar o nosso gasto energético em produtos de baixo valor agregado (como bem postou nosso colega Villi) que servem de matéria prima pra produtos que o Brasil compra depois por valores exorbitantes. É um custo social e ambiental muito caros. Gente, é um absurdo: a gente produz laranja pra depois importar suco!

Emanuele Abreu said...
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Emanuele Abreu said...
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Emanuele Abreu said...

Sabemos que a utilização crescente de energia, independentemente da sua finalidade, tem causado grandes impactos no meio ambiente. É necessário que autoridades competentes busquem soluções que minimizem esse problema, não esquecendo que o crescimento do Brasil é contínuo. Dessa forma, torna-se imprescindível um melhor planejamento quanto ao uso dos recursos naturais, levando em consideração que a biocapacidade do planeta já ultrapassou seus limites.

Hélio Vitor said...

Com certeza José é uma pena ver que gastamos nossa energia principalmente para exportação e não para o consumo interno.
E Marcelo, independentemente de poder responder Sim para a sua primeira pergunta, é fato que só disso estar acontecendo já é um avanço, pois como você mesmo disse, estaríamos saindo da fase do petróleo e utilizando novas técnicas de energia limpa. E com relação a conclusão 4 do Villi, é extremamente necessário que se tenha políticas públicas eficazes para a solução do problema da utilização de energia nesses grupos industriais.

Andréa Bartonelli said...

A busca pela auto-suficiência energética de alguns destes principais segmentos industriais brasileiros, conquistando até prêmios internacionais, por sua mudança de paradigmas e maior eficiência em sua planta fabril – como exemplo a Mannesman em Minas Gerais - nos apresentam também um novo horizonte em curso. Agora, o que de todos os dados apresentados se destacam, foi a enorme pressão pela ampliação das termoelétricas utilizando o gás natural. Sem dúvida, um dos maiores retrocessos de nossa matriz energética. Quanto ao potencial dos biocombustíveis, em minha opinião, somente se tornarão, de fato, uma alternativa viável e sustentável quando sua planta industrial tornar-se menos concentradora e permitir multiplicarem-se em pequenos projetos junto à agricultura familiar, gerando trabalho, renda e energia.