Sunday, April 4, 2010

BALANÇO ENERGÉTICO E MATRIZ ENERGÉTICA NO BRASIL:


BALANÇO ENERGÉTICO E MATRIZ ENERGÉTICA NO BRASIL:
Instrumento Fundamental para o Planejamento Energético

Autor: Weeberb J. Réquia Jr.
Revisão: Dilma, Rogério e Alano.

            Reis (2005) simplifica o conceito de balanço energético e matriz energética afirmando que, a matriz energética é um conjunto de balanços energéticos periódicos, construído para um período de tempo futuro, levando-se em consideração a evolução dos diferentes cenários.
            No Brasil, o primeiro Balanço Energético Nacional (BEN) foi elaborado em 1976, pelo Ministério de Minas e Energia. Naquela época, o BEN apresentava resultados estatísticos dos últimos 10 anos e fazia prospecções para os próximos 10 anos. Com a evolução do tempo, o balanço deixou de realizar as projeções futuras, para focar, as situações presentes. Atualmente, o Balanço Energético Nacional apresenta, a cada ano, os dados desde a produção de energia até o seu consumo final. Nos resultados apresentados, são levados em consideração a distinção entre as fontes primárias e secundárias de energia. Essas provenientes de transformações. E aquelas, obtidas diretamente da natureza.
            O BEN utiliza sete normas técnicas, elaboradas especificamente, como critérios para a apropriação dos dados, em suas respectivas fontes, necessários para elaboração dos estudos.
            O Balanço Anual apresentado pelo BEN sempre apresenta dados do ano anterior e são revistos os dados do penúltimo ano. Por exemplo, no ano de 2009 são incorporados dados de 2008 e revistos os dados de 2007.
            A estruturação do BEN é composta de quatro partes: energia primária, transformação, energia secundária e consumo final. A seguir, segue uma breve descrição dessa estrutura.

- Energia Primária: providos diretamente da natureza. Exemplo: petróleo, Gás Natural, carvão mineral, resíduos vegetais, energia solar, energia eólia e etc;
- Energia Secundária: resultantes de transformação. Exemplo: óleo diesel, gasolina, querosene, carvão vegetal, álcool etílico e etc;
Obs.: Soma-se todas as energias produzidas no país (soma do total de energia primária e o total de energia secundária).

- Transformação: agrupa-se todos os centros de transformação onde a energia entra (primária e/ou secundária). No final, apresenta a soma algébrica de energia primária e secundária que entra e sai dos centros de transformação.
- Consumo Final: aqui são detalhados os diferentes setores econômicos do país, que utilizam a energia primária e secundária. Têm-se então, o consumo final de energia.

            É importante também, conhecer as definições de alguns termos utilizados na elaboração da estrutura geral do BEN. Esses termos são apresentados a seguir: oferta, produção, exportação, importação, reinjeção, oferta interna bruta, centros de transformação, perdas na distribuição e armazenagem, consumo final – não energético, consumo final energético, consumo final do setor energético, consumo final residencial, consumo final comercial, consumo final público, consumo final agropecuário, consumo final do setor de transporte e consumo final industrial.
            Algumas peculiaridades são adotadas para o tratamento das informações no desenvolvimento da Matriz Energética. Segue:

- Energia Nuclear: adota-se o ciclo do combustível nuclear – centro de transformação, o urânio natural na foram de U308 (energia primária) é transformado em urânio no UO2 dos elementos combustíveis;
- Energia Hidrelétrica e eletricidade: considera-se como geração hidráulica o valor correspondente à produção bruta de energia, medido nas centrais. Não é considerada a parcela correspondente à energia vertida. Esse é o mesmo critério utilizado por algumas agências internacionais;
- Produção de Cana-de-açúcar: consideram-se como produtos primários o calda da cana, o melaço, o bagaço de pontas, as folhas e olhaduras. E como produtos secundários o etanol (álcool anidro e hidratado).

            Dentre o conteúdo apresentado pelo BEN (dividido em nove capítulos), possui os anexos. Um parte desse, possui a apresentação do tópico referente às unidades. A unidade adotada é o “tep – tonelada equivalente de petróleo”. Essa unidade é coerente com o Sistema Internacional de Unidades.
            Somente a eletricidade não é convertida para o tep, pois leva em consideração rendimentos de processos de transformação. Todos os demais produtos energéticos são convertidos para o tep.  Em resumo, serão apresentadas a seguir, informações das unidades que facilitam a compreensão do BEN:  Unidades de medidas (comerciais – exemplo: massa, volume e etc); Tonelada equivalente de petróleo (tep); Caloria (cal); Poder calorífico; Watt (W); Watt-hora (Wh); Joule (J); Newton (N).

            São considerados três pilares básicos e fundamentais para a visão integrada, sustentada, consistente e transparente, acerca da construção da Matriz Energética. Reis (2005) apresenta a descrição desses pilares:

- integração da visão de planejamento com a do acompanhamento tecnológico e de fomento;
- criação de um sistema integrado e transparente de informações (estrutura do banco de informações);
- apresentação de um planejamento que contenha bases para um monitoramento contínuo do setor de energia.

            Além da consideração dos três pilares apresentados, deve-se introduzir no processo de elaboração dos estudos: a criação de cenários alternativos; estabelecimento de uma metodologia para atualização das informações; procedimentos de compatibilização dos dados; metodologias para obtenção de dados novos, que até então eram indisponíveis; interação com órgãos internacionais, como a International Energy Agency (IEA) e o Energy Information Agency (EIA), do Department of Energy (DOE) e outros órgãos.
            O produto gerado pelo levantamento do BEN é um instrumento fundamental para a execução de uma política energética eficiente. Esse instrumento pode ser utilizado tanto para políticas em nível de um país, como, estadual, regional e local.    

Referências:
REIS, Lineu B.; FADIGAS, Eliane A. Amaral; CARVALHO, Cláudio E. Energia, Recursos Naturais e a Prática do Desenvolvimento Sustentável. Monole. São Paulo, 2005.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Matriz Energética Nacional 2030. Brasília, 2007.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Balanço Energético Nacional 2009. Brasília, 2009.

12 comments:

Debora said...

Tanto o BEN como a matriz sao considerados ferramentas essenciais e importantes para a pesquisa e a informacao sobre a energia nacional, e ainda para definir estrategias energeticas e ambientais para o país, mas como se sabe, sempre temos os interesses politicos acima de tudo isso...o que as vezes tornam essas ferramentas "ineficazes" ou ate mesmo sem sua utilidade essencial...

Brasil said...

A ferramenta BEN - Balanço Energético Nacional baseada em levantamento anual, documenta e divulga extensa pesquisa e a contabilidade relativas à oferta e consumo de energia no Brasil, contemplando as atividades de extração de recursos energéticos primários, sua conversão em formas secundárias, a importação e exportação, a distribuição e o uso final da energia.
Constitui assim o BEN num instrumento de dados de importância vital para formular as consultas e discussões no que tange o setor energético do Brasil. No BEN, o consumo final de energia é aberto a muitos setores cruciais para o desenvolvimento econômico, entre os quais destacam-se: setor energético, residencial, comercial, público, agropecuário, transporte (rodoviário, ferroviário, hidroviário e aeroviário) e industrial (cimento, ferro-gusa e aço,ferroligas, mineração e pelotização, não-ferrosos e outros da metalurgia, química, alimentos e bebidas, têxtil, papel e celulose, cerâmica e outros).
O mais importante é ficar patente que, com base no BEN, a matriz energética brasileira está cada vez mais diversificando e as fontes renováveis de energia dão posição de destaque para o país. Mostra que estamos sim caminhando rumo a outras fontes de energias renováveis, assumindo um compromisso de cunho mundial para a redução de emissões de CO2 o que afeta fundamentalmente as condições climáticas do planeta. Temos nós da sociedade a ganhar muito com as políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável.

Nanci Ambiental said...

O texto apresentado pelo Weerbeb esta de forma clara, para que possamos compreender um pouco sobre a elaboração do Balanço Energético Nacional – BEN, abordando as transformações de unidades de medida; suas reais somatórias; os dados utilizados; os anos considerados para o balanço, enfim, todo mecanismo envolvido para uma correta elaboração de um BEN. Acredito que este texto servirá de certa forma, para realização do levantamento de dados do nosso BEU (Balanço Energético Universitário).

José Carlos said...

É fato que o BEN é uma ferramenta indispensável para a elaboração de políticas e para a compreensão mais detalhada do sistema energético brasileiro, porém o que realmente me chamou a atenção foram os pilares necessários para uma visão mais integrada. A transparência de informações é essencial para que haja melhorias no sistema energético atual. Além disso, a definição de cenários alternativos gera um estado de segurança. Como discutido em sala, a dependência em apenas uma única fonte de energia é arriscado e os cenários alternativos são a melhor forma para evitar que os impactos sejam atenuados caso alguma crise surja.

Dilma Bowen said...

A adoção de cogeração intensa de eficiência energética em todos os setores, devem estar focados nos cenários alternativos.Com isso,viabilizando economicamente outras opções e - além da já existente no Brasil - internalização dos impactos sócio-ambientais. Para diversificação da matriz, a cadeia de geração de biomassa é a que possui maior maturidade. Para que o potencial alternativo seja posto em prática é necessário a remoção de obstáculos (políticos, estruturais...) para o afloramento de diversas fontes alteernativas. Os cenários existem! Falta as forças para que aconteça a diversificação. O BEN nos mostra como foi o ano passado o consumo de energia, revela que precisaremos de mais energia para a promoção do desenvolvimento, mas não aponta as tendências, os cenários...

Luciano Fonseca said...

São considerados três pilares básicos e fundamentais para a visão integrada da utilização desta ferramenta, Balanço Energético Nacional-BEN, porém são estes pilares que justamente torna o instrumento inedficiente, portanto, é necessário priorizar e desenvolver os seguintes pontos:
-integação de uma visão de planejamento;
- apresentação de um planejamento e monitoramento contínuo;
- principalmente criação por parte dos órgãos governamentais um sistema integrado e transparente de informações aos consumidores, dando a ferramenta BEN,a utilização e importância para a qual ela foi criada...

Marcelo Wolter said...

O Balanço Energético Nacional (BEN) é uma ferramenta importantíssima para o planejamento ambiental, especificamente na área de energia. Um estudo mais detalhado desse documento fornece informações extremamente úteis sobre as características de geração, de uso e de consumo de energia, facilitando o entendimento da situação energética do país e possibilitando a criação de estratégias e de planos para intensificar a geração e o uso de fontes de energias renováveis e mais limpas. Outro ponto forte do BEM é a adequação das unidades para Toneladas Equivalentes de Petróleo (tep), pois possibilita a comparação entre fontes de energia, facilitando ainda mais o uso dessa ferramenta de planejamento.

Adilson said...

O BEN é um retrato do que fomos que pode servir para mostrar o que seremos (planejamento), mais do isso, ele pode servir de indicador não só econômico, mas também ambiental para um projeto de nação que pode se destacar no cenário mundial se aprender com o passado. O que se quer dizer com isso? Somos um país que ainda é um grande exportador de matéria prima, entre elas, estão os produtos com menor poder agregado que demandam mais de energia e emitem mais de GEE (gases de efeito estufa) como, por exemplo, a mineração e a siderurgia. Contudo, os países centrais estão cada vez mais desvinculando seu PIB das emissões de alguns GEE (OCDE), pois sua matriz econômica está migrando para o terceiro setor, ou seja, gastam menos energia e contribuem mais para o PIB. Portanto, esses países estão deixando o serviço ‘sujo’ para países como nosso, por isso é importante analisar o BEM e perceber se nosso incremento no PIB tem mais a ver com o aumento do consumo de energia ‘suja’ ou está atrelado ao aumento da participação do terceiro setor na economia, por exemplo. Por fim, tendo tabulado esses dados, podemos pensar em um planejamento que possa a médio prazo ir desvinculando nossa matriz energética e nosso PIB da produção de GEE.

Rogério de Souza Leitão said...

Analisando o BEN podemos verificar que o consumidor tem o poder de escolha, flexibilidade, oferta de várias fontes de energéticos. Esta talvez seja a forma mais desejada para o consumidor final, que tem o poder de escolher qual o energético mais razoável segundo uma relação de custo/benefício.

A tecnologia do flex fuel é um exemplo concreto desta tendência. Um carro bi-combustível, onde tem o incentivo do carro a álcool nos impostos, a opção de se escolher álcool ou gasolina e a virtude de não perder o valor na revenda, ou mesmo de não ficar vulnerável a falta de um ou outro energético.

Temos também a tendência do motor diesel com gás natural associado, que já foi desenvolvido e pode ter uma importante participação no mercado de ônibus municipais e geradores/co-geradores.

Temos, no setor industrial, a possibilidade de se usar o gás natural juntamente com óleo pesado em queimadores, onde o gás natural faz a vez do vapor para auxiliar na diluição e dinamização do óleo pesado.

Sinergia entre as diversas opções para os energéticos e em especial para o gás natural. É fácil de ver que a distribuição do gás natural liquefeito (GNL) e comprimido (GNC) irá alavancar o crescimento futuro do gás natural canalizado. A formalização da liberação do uso do GNL e GNC das esferas estaduais, fazendo uma legislação e regulação através da ANP, de vigência nacional tende a expandir o uso do gás natural para locais onde hoje é inviável o gás canalizado, formando a massa critica necessária para no futuro se dar à construção de dutos.

Andréa Bartonelli said...

Fernando Brant já dizia, em sua forma poética, o resumo desse tema: “O que foi feito é preciso conhecer, para melhor prosseguir!”. Ou seja, sem que haja um cuidadoso e criterioso levantamento de dados, não se é possível fazer um bom planejamento estratégico e integrado das ações voltadas para o desenvolvimento energético brasileiro, tomando em perspectiva a evolução de diferentes cenários nacionais. Somente a abordagem de dados estatísticos consistentes pode nos levar a uma reflexão melhor embasada para prospectarmos cenários favoráveis ou desfavoráveis às nossas pretensões e estabelecer uma dinâmica consistente de acesso a múltiplas realidades que devam ser avaliadas.
Esse artigo segue uma linha bem clara nesse sentido e, por isso, nos trás subsídios adequados a uma reflexão melhor pautada, com vistas à eficiência de todo o sistema. Digo isso, inclusive, me referindo ao complemento do mesmo.

Hélio Vitor said...

Após a leitura do texto, que foi muito bem postado pelo colega Weeberb, pôde-se entender um pouco mais sobre o Balanço Energético Nacional (BEN), pois vimos os anos abordados pelo BEN, sua estruturação e os pilares para construção de uma matriz energética. Sabe-se que esse estudo é importantíssimo para tratar da energia no País, mas que as vezes não é tratado da forma correta, o que o impede de ter sua eficácia plena.

Ivan Freitas said...

Deve ser lembrado que o modelo de leilões de energia elétrica e de concentração do planejamento do setor energia em uma única empresa pública federal (a Empresa de Pesquisa Energética – EPE, subordinada ao Ministério das Minas e Energia - MME) é recente (foi implantado pela atual administração), ainda precisa ser comprovado e consolidado.

Cabe discutir sobre as alternativas disponíveis para manter a transparência dos modelos matemáticos empregados no planejamento energético, bem como para garantir a participação da sociedade civil nesta atividade.